sexta, 08 dezembro 2023

Os meus lindos olhos azuis

sexta, 05 fevereiro 2016 12:04
Talvez seja muito pretensiosismo da minha parte mas os textos que escrevo, por norma, falam sobre mim e sobre aquilo que penso e sinto. Este, naturalmente, não fugirá à regra e trará, com certeza, arrastado a si um misto de sentimentos que, invariavelmente, abordarão a tristeza mas também a alegria. Neste caso em particular talvez vá expôr um pouco mais da minha vida do que aquilo que eu próprio considero que deveria, ainda assim, como esta minha vida tem sido gerida por sentimentos (impulsos não, sentimentos…) sinto que é assim que devo fazer.
 
Pensei escrever sobre o Carnaval e até sobre o amor visto este ser o mês, per si, dedicado ao amor. No entanto, as circunstâncias da vida fizeram com que efetivamente escrevesse sobre o amor mas noutra perspectiva.
 
Este ano de 2016 não tem sido um ano particularmente positivo para mim. Eu não tenho por costume dividir as acções ou os acontecimentos que envolvem a minha vida por anos, prefiro encará-los por fases, umas mais positivas outras nem por isso, mas o que é certo é que este curto período que compreendeu o início do ano e o momento actual tem sido bastante difícil para mim e para os meus. De hospitais a funerais tem sido “um ver se te avias”. Quero acreditar que é só mais uma fase, mais uma etapa que fará com que haja mais aprendizagem e crescimento. Contudo, para se crescer assim, inevitavelmente haverá sofrimento, sofrimento que pode esbarrar de frente num muro e ficar ali estatelado e guardado num qualquer cantinho do coração sem sequer haver hipóteses de nos reerguermos, ou um sofrimento que, mesmo esbarrando de frente nesse muro nos obriga a levantar e a transpô-lo sem apelo nem agravo com a ansia de o ver atrás das costas e o mais longe possível de forma a esquecer o choque.
 

Pensavas o quê? Que era para ires? Então não vês que não era a hora? Tu não vês que fazes cá falta?

De certeza que à maioria das pessoas o muro já lhe apareceu à frente e o próprio chão já lhes fugiu debaixo dos pés mais do que uma vez. Quando digo isto não o digo por me referir a qualquer tipo de queda, refiro-me aos pontapés que a vida nos dá, às vicissitudes que nos vão surgindo ao longo do nosso percurso.
 
Foi assim que me senti, com o chão a fugir-me debaixo dos pés, quando um médico nos disse, há cerca de duas semanas, que havia rebentado um vaso sanguíneo no cérebro de uma das mais importantes pessoas da minha vida, provocando uma hemorragia cerebral e que a situação se afigurava como grave. As horas que se seguiram a esta notícia foram como se fossem anos, duros anos! Neste tempo tudo nos passa pela cabeça, acreditem, tudo mesmo! E o que mais nos incomoda é a dolorosa pressão de tentar afastar o pensamento de uma possível perda e não conseguir, incomoda-nos o facto de tentar controlar aquele saco lacrimal e o mesmo não respeitar a tentativa fazendo escorrer o líquido incessantemente e sem qualquer tipo de controle. Outra coisa que nos incomoda de sobremaneira é o silêncio, é a ausência de palavras, a ausência de respostas, o porquê. Ao mesmo tempo imaginamos um milhão de respostas, terá sido stress? – sabemos que o stress afecta claramente o cérebro, está provado que o mesmo faz a pressão sanguínea ser maior… terá sido um acumular de tensões? Enfim, um milhão de respostas que não nos dão garantia absolutamente nenhuma de estarem correctas.
 
De entre tantas respostas surgem medos, surgem sensações de completa impotência, surgem arrependimentos… sim arrependimentos por pensarmos que passamos pouco tempo com as pessoas que amamos, por pensarmos que, não raras vezes, nos aborrecemos com situações fúteis, sem qualquer tipo de importância.
Quando às seis da manhã desse dia 24 de janeiro nos dizem que um aneurisma cerebral havia rebentado e que a tentativa de resolução desse problema passaria por uma intervenção cirúrgica a realizar daí a duas horas, nós só queremos que o tempo passe depressa. Só de imaginarmos que num outro fim de semana, com este mesmo problema, um jovem perdeu a vida num qualquer outro hospital de Lisboa por falta de assistência médica, os arrepios sucedem-se, uns a seguir aos outros. De certeza que em circunstâncias idênticas, se crentes, todos rezarão ao seu Deus, senão, pelo menos acreditarão na competência dos profissionais que realizam o seu trabalho em prol dos outros. No meu caso específico, rezei ao meu Deus imaginando que as suas mãos eram as mãos daqueles profissionais, daqueles homens e mulheres do Serviço de Neurocirurgia do Hospital de Santa Maria. E elas estiveram lá… AQUELAS MÃOS ESTIVERAM LÁ, não para levar a esperança para outro lado mas para a trazer até nós.
 
Os serviços de saúde são muitas vezes criticados na praça pública, justa ou injustamente, por eventuais acções de negligência. Quando as boas práticas médicas são na realidade motivo de serem elogiadas, não deve haver pejo em fazê-lo, devem ser enaltecidas e divulgadas. Nesta situação em concreto, aos profissionais de saúde de serviço nesse dia nas urgências do Centro de Saúde de Estremoz, aos do Hospital do Espírito Santo de Évora e até aos do Hospital de Santa Maria em Lisboa é devido o reconhecimento por tudo terem feito para rapidamente serem desenvolvidos todos os mecanismos de apoio a esta situação em si.
 
Situações deste género servem para perceber que somos unidos, servem para perceber que o apoio da família foi precioso para ultrapassar cada degrau e aí, o papel do mano, da esposa e da cunhada têm sido fulcrais para o compreender. Estas situações também servem para perceber que temos amigos e que eles estão cá para o que for preciso.
 
Toda a gente diz que a sua mãe é a melhor do mundo. Vão desculpar-me mas terei que discordar, também tenho a certeza que todos discordarão de mim, e estão no seu direito mas, na realidade, é a minha que é a melhor mãe do mundo! Sim, tu mãe… és a melhor do mundo!
 

Quando às seis da manhã desse dia 24 de janeiro nos dizem que um aneurisma cerebral havia rebentado e que a tentativa de resolução desse problema passaria por uma intervenção cirúrgica a realizar daí a duas horas, nós só queremos que o tempo passe depressa.

Pensavas o quê? Que era para ires? Então não vês que não era a hora? Tu não vês que fazes cá falta? Ainda tens que ensinar as contas de multiplicar e dividir a muita gente… ainda tens muitos teatros para ver… ainda tens que ir muitas vezes aos bailados clássicos e ao cinema… ainda tens que partilhar o teu bom coração com muita gente… ainda tens muito para ensinar e aprender… ainda tens que passear… passear muito.
 
Tu não vês que há muitas pessoas que gostam de ti e que gostam de estar contigo?
 
Muita gente diz que tiveste uma sorte tremenda, parece que foi como se te tivesse saído o euromilhões, eu acredito mais em competência e, sinceramente, acredito que as mãos Dele estavam cá em baixo a guiar as mãos dos outros. O nosso Deus estava contigo, mãe!
 
Já imaginaste como nós nos sentiríamos se ficássemos sozinhos? Sem ti que nos geraste, que nos criaste, que nos ensinaste muito do que somos e do que sabemos, a mim até a ler e escrever foste tu que me ensinaste (esses 4 anos foram difíceis, é verdade. E sempre te disse que preferia ter sido aluno de outro professor… era tudo mentira, não trocava esses anos por nada!)
 
Será que não vês que não poderia amar mais ninguém desta maneira? (E olha que era um desperdício, a sério!)
 
Ainda não percebeste que os meus lindos olhos azuis não são os meus, são os teus?
 
* Professor Luís Parente
 
Modificado em sexta, 05 fevereiro 2016 15:15

Faça-se a luz

sexta, 22 janeiro 2016 00:37
"No princípio, quando Deus criou os céus e a terra (...) Deus disse: 'Faça-se a luz', e a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas." (Génesis 1: 1-4)
 
Começa assim o extraordinário Livro do Génesis, o primeiro do Antigo Testamento e que se traduz na visão bíblica da criação do Universo, da Terra e da Vida, a partir da luz do Sol.
 
Quer optemos por esta visão criacionista ou por uma perspetiva evolucionista da origem do Universo, o que é certo é que a luz do Sol é essencial à existência da vida, pelo menos na forma, ou nas formas, como a conhecemos. Sem luz, não existiria alternância entre o dia e a noite, a fotossíntese não se poderia realizar, os seres vivos e os corpos inertes não receberiam energia e não a poderiam trocar entre eles, pondo em causa os diversos e complexos sistemas biofísicos do Planeta.
 

Sei que os residentes preferiam não ter a central à porta, por isso, a solução poderia ter passado por terem adquirido o terreno, deixando-o tal como está ou, em alternativa, dando-lhe uma utilização agrícola mais produtiva do que a atual.

Por outro lado, a luz é o principal elemento de construção da paisagem, na medida em que define a forma como a percecionamos. Isto porque a luz natural, proveniente do Sol ou, por vezes, da Lua (que é luz solar refletida) contém um intervalo completo de comprimentos de onda visíveis, conferindo assim cor à paisagem. A quantidade, qualidade e direção da luz tem um efeito importante na nossa perceção da forma, textura e cores. Por isso, não podemos ver o que nos rodeia sem que esteja iluminado, seja de forma natural ou artificial.
 
Para conseguirmos ver o que nos rodeia em ambientes escuros ou durante a noite, é necessário recorrermos à iluminação artificial. Muito antes da existência da eletricidade, a Humanidade recorreu ao uso do fogo para garantir esta iluminação. Hoje em dia, a eletricidade chega-nos a casa através da transformação de diversas fontes de energia (nuclear, hídrica, eólica, das marés, solar...).
 
A energia solar é uma das que apresenta mais vantagens para a obtenção de energia elétrica, pois o recurso Sol é inesgotável, pelo menos à escala da existência de vida na Terra, e porque trata-se de uma fonte de energia limpa, que não polui durante a sua utilização.
 
É de tal forma uma excelente alternativa aos restantes modos de produção de energia elétrica, que por todo o mundo se procuram formas de melhor dela tirar partido, propagando-se a construção de inúmeras centrais fotovoltaicas.
 
Apenas em Estremoz a construção de uma central fotovoltaica na freguesia do Ameixial tem feito correr tinta, em especial nas sessões de Câmara e da Assembleia Municipal, bem como nalgumas publicações que têm dado ao assunto uma certa ênfase, na minha opinião pouco justificável, tendo em conta a própria dimensão da central.
 
Trata-se de um investimento da ordem dos cinco milhões de euros no concelho de Estremoz, de uma forma limpa, eficaz e mais barata de produção de energia elétrica e, principalmente, de um empreendimento que foi devidamente licenciado pela Câmara Municipal, atendendo aos pareceres positivos emanados pelas diversas entidades (Comissão Regional da Reserva Agrícola Nacional, Direção Regional de Cultura, Agência Portuguesa do Ambiente) e depois de verificadas as disposições regulamentares do Plano Diretor Municipal.
 
Qual é, então, o problema? Ao que parece, meia dúzia de residentes serão afetados "pelo forte impacto visual" que os painéis solares irão provocar na paisagem envolvente. Isso foi suficiente para grandes notícias em "jornais especializados" e para amplas discussões nos órgãos da autarquia, estas últimas, em meu entender, com o único objetivo de tirar partido político da situação.
 
Os residentes afetados, na maioria apenas ao fim-de-semana, dizem sentir-se incomodados com a implantação dos painéis à porta de casa e num terreno com "elevada aptidão agrícola", sugerindo a sua deslocalização para qualquer outro lugar. Aqui colocam-se dois problemas. Por um lado, que se saiba, nos últimos anos o terreno em questão tem estado em pousio, logo não tem sido aproveitado para quaisquer fins agrícolas. Por outro lado, quaisquer outras soluções alternativas para a localização do empreendimento iriam afetar outras pessoas ou provocar outros impactos ambientais noutros locais. O assunto continuaria por resolver. Sei que os residentes preferiam não ter a central à porta, por isso, a solução poderia ter passado por terem adquirido o terreno, deixando-o tal como está ou, em alternativa, dando-lhe uma utilização agrícola mais produtiva do que a atual.
 

Quanto aos políticos locais afetados, já estranho mais a sua posição, ao votarem contra a implantação do empreendimento. (...) Talvez estes políticos locais, que queriam chumbar a instalação da central no concelho de Estremoz, não tenham lido os programas nacionais e as grandes opções dos partidos políticos que lhe dão a oportunidade de ter uma intervenção na vida política municipal.

Os residentes e os políticos alegam ainda a proximidade ao Padrão e ao Terreiro da Batalha do Ameixial, classificado como monumento nacional, e o impacto visual que a central terá nos mesmos e na paisagem envolvente, facto que a Direção Regional de Cultura do Alentejo, que tem a tutela da proteção do património classificado, não considerou relevante. A este propósito da defesa do património, houve até lugar à tentativa de envolvimento do Presidente da Entidade Regional de Turismo nesta situação. Como se a ERT tivesse, em algum momento, que ser consultada ou como se o Terreiro da Batalha do Ameixial fosse um importante recurso turístico do concelho de Estremoz, visitado anualmente por milhares de turistas. Não me espanta, por isso, a "surpresa" de Ceia da Silva, quando confrontado por um jornal local acerca da central fotovoltaica, nem o facto de não ter sido visto nem achado em todo o processo.
 
Quanto aos políticos locais afetados, já estranho mais a sua posição, ao votarem contra a implantação do empreendimento. E ainda mais, quando em todo o mundo se procuram formas alternativas de produção de energia limpa, quando a União Europeia faz todos os esforços nesse sentido e quando os sucessivos programas dos governos nacionais, incluindo o atual, apontam como prioridade o investimento neste tipo de soluções de produção de energia elétrica. Talvez estes políticos locais, que queriam chumbar a instalação da central no concelho de Estremoz, não tenham lido os programas nacionais e as grandes opções dos partidos políticos que lhe dão a oportunidade de ter uma intervenção na vida política municipal.
 
Ou talvez os políticos locais prefiram apostar no regresso da iluminação à base de candeias de azeite e, assim, apontem como solução para aquele espaço a plantação de um enorme olival, uma forma de devolver ao terreno a sua aptidão agrícola e um verdadeiro ícone da paisagem mediterrânica. 
 
É caso para dizer, como dizem que disse o Criador: "faça-se luz nas suas mentes, para acabar de uma vez por todas com as trevas..."
 
* Arquiteto-Paisagista António Serrano
 
 
Modificado em sexta, 22 janeiro 2016 00:58

Encontro com Freud - Crónica IX

quinta, 21 janeiro 2016 23:50
…”encontro com Freud” de hoje tem título “Quando te divorciei do nosso filho”, a Alienação Parental existe e já é tempo de proteger as crianças e jovens deste “terrorismo” psíquico e emocional, cujas consequências a médio e longo prazo, poderão ser demasiado penosas e irreversíveis. A Alienação Parental, tal como se nos apresenta, é induzir na criança a “inexistência” de um dos progenitores. Como é possível? As formas com que se apresenta são variadas, culpabilizar o progenitor que pretendemos “matar” pela separação dos pais, fantasiar situações de maus-tratos e abusos que supostamente o progenitor “morto” terá cometido à criança entre outras, sempre de forma sistemática e persuasiva. Primeiro objectivo, atingir de forma deliberada o progenitor que se pretende “apagar” da memória da criança paralelamente às vivências do mesmo com essa mesma figura.
 

As Crianças Merecem que façamos muito mais, e aos pais que resolvam as suas questões pessoais utilizando os meios adequados, e nunca, jamais, OS SEUS PRÓPRIOS FILHOS.

O divórcio dos pais pode aparecer como um cataclismo para a criança, sobretudo quando nada deixa prever esse acontecimento. De algum modo ela deseja a separação parental, no entanto, nos casos de violência grave, afectivamente ela deseja a continuidade da vida em comum, mas intelectualmente sabe que a separação é inevitável. O que aqui importa é que havendo ruptura na ligação parental esta não implica ruptura entre os pais e a criança. Ela precisa também saber como é que a sua vida vai decorrer no futuro, pois o desconhecido causa-lhe receios. O sofrimento da criança é real, aparecendo fortes sentimentos de culpabilidade, sentimentos de agressividade para o que desejou a separação e proximidade para com aquele que sofre as consequências da mesma. É urgente desmistificar a culpabilização da criança face à ruptura parental e mais urgente será, não apontar responsabilidades ao progenitor que toma essa decisão, criando além dos sentimentos inerentes à separação, o do abandono por parte desse mesmo progenitor.
 
Depois da separação, a criança deverá fazer o luto da vida anterior e não o luto de um dos progenitores como nestes casos tantas vezes acontece. A partir desta altura vai definir-se em função de dois pólos, desenvolvendo-se a partir do interesse criado pelos seus pais. Porém, se os conflitos persistem e um dos progenitores trabalha no sentido de “apagar” o outro da vida da criança, a dificuldade vai aumentar com o sentimento de desvalorização da criança.
 
Alguns pais neuróticos podem ser tão perniciosos para a criança quanto um progenitor doente mental. Enquanto este vê a criança num quadro protegido, o primeiro vê a criança sem nenhum observador. A nível da psicopatologia parental existem dois tipos de manifestações: as perturbações anteriores e as que aparecem depois da separação e que são uma reacção pós-traumática individual ou colectiva, as crianças, não podem ser utilizadas, de forma,  irracional, narcísica e egocêntrica, não é e nunca será a criança a divorciar-se.
 
Quando as perturbações aparecem na vida em comum são frequentemente problemas psicóticos que motivaram a parentalidade. Nessa altura há necessidade de avaliar as capacidades parentais e evitar que a criança assista a manifestações traumatizantes.
 
Alguns pais continuam a guerra após a separação, porque o conflito alimenta as suas necessidades psíquicas. As leis não são respeitadas e muitas vezes estão acima das leis pois consideram que são o progenitor que sabe o que é melhor para a criança, exercendo sobre a mesma chantagem emocional e reforçando a incapacidade do outro progenitor enquanto cuidador e protector.
 
O progenitor denegativo é aquele que se atribui todas as qualidades parentais varrendo o outro da cena relacional com a criança. É o caso dos pais dissimuladores que vão utilizar o sistema judiciário posicionando-se como vítimas e impondo à criança escolhas impossíveis.
 
O papel da criança é diferenciado, isto é, há a criança que utiliza a estratégia de desempenhar o papel de “criança” pondo os pais numa atitude de rivalidade e obrigando-os, desta forma, a comunicar sobre a atitude educativa. A criança “adulta” é aquela que inventa mil estratagemas para manter o contacto parental. A criança “terapeuta” é aquela que se ocupa de um progenitor que teve dificuldades em superar a separação, são crianças que necessitarão de um apoio psicológico mais tarde. A criança “vingativa” ultrapassa linhas fronteiriças, denunciando inclusive comportamentos violentos, maus-tratos, abusos por parte do outro progenitor que nunca foram praticados. A criança “objecto” tem uma personalidade só para responder ao desejo parental e, sobretudo, daquele ferido narcisicamente. Se a criança não se valoriza, torna-se perigoso pois poderá ir do delito ao abuso como forma de empatia com o suposto progenitor vitimizado.
 

Em nome de que “Amor” teremos o direito de provocar tamanho sofrimento, em nome de que “Amor” teremos o direito de privar as crianças de um bem tão precioso, como o de ter Mãe e Pai, independentemente de haver ou não relação parental.

Em qualquer dos casos, as consequências são nefastas para as crianças colocando em risco a sua saúde mental e desenvolvimento. Pode provocar danos, emocionais, afectivos, relacionais, cognitivos e comportamentais.
 
Em nome de que “Amor” teremos o direito de provocar tamanho sofrimento, em nome de que “Amor” teremos o direito de privar as crianças de um bem tão precioso, como o de ter Mãe e Pai, independentemente de haver ou não relação parental. 
 
É urgente legislação, como forma de evitar demasiadas vezes, decisões judiciais desadequadas e inconsequentes.
 
Alienação Parental é: 
I – realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;
II – dificultar o exercício da autoridade parental;
III – dificultar o contato da criança ou adolescente com genitor;
IV – dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V – omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou o adolescente;
VII – mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.
 
Vale ressaltar que não se trata de rol taxativo, havendo a possibilidade, ainda, de atos diversos declarados pelo Juiz ou constatados por perícia.
As consequências são gravíssimas: as suas vítimas são mais propensas a:
a) Apresentar distúrbios psicológicos como depressão, ansiedade e pânico;
b) Utilizar drogas e álcool como forma de aliviar a dor e a culpa;
c) Cometer suicídio;
d) Não conseguir uma relação estável quando adulta;
e) Possuir problemas de género, em função da desqualificação do genitor atacado; 
f) Repetir o mesmo comportamento quando tiver filhos.
 
As Crianças Merecem que façamos muito mais, e aos pais que resolvam as suas questões pessoais utilizando os meios adequados, e nunca, jamais, OS SEUS PRÓPRIOS FILHOS.
 
* Psicóloga Helena Chouriço
 
 
Modificado em sexta, 22 janeiro 2016 00:20

Para ti, "Rei das Tabelas"

quinta, 14 janeiro 2016 23:56
Uma vez disseste-me: "Isto é duro mas eu vou conseguir". Acreditei. Acreditei mesmo. E não acreditei só porque sim. Acreditei porque conhecia a tua força. Conhecia a tua forma de encarar a vida e as contrariedades. Sabia que ias lutar contra a doença com a mesma força que levantavas pesos no ginásio que montaste na parte de cima da tua casa. Conhecia-te como um lutador. Eu e os nossos colegas do hóquei brincávamos contigo quando dizíamos que eras o "Rei das Tabelas". O que é certo, é que era aí que tu mostravas a tua força e os adversários ficavam colados ao chão. A bola era sempre tua, apesar de às vezes os árbitros acharem que era falta. Gostavas de te colocar à prova. Gostavas de ver quem era o mais "cavalão".

Já passou um ano. Um ano sem ouvir as tuas "parvoeiras". Sim, tu fazias questão de chegar e dizer qualquer coisa. Nem que fosse: "Epá, tens uma blusa do caparro, mas só te falta o caparro". Fazias questão de dizer sempre algo para melhorar o ambiente. Quando nos juntávamos, e ultimamente já eram poucas vezes, surgiam logo as histórias de outro tempo acompanhadas de gargalhadas. Basicamente, tínhamos outra vez 10 ou 15 anos. A mim, particularmente, volta e meia dizias-me:"estás mais magro...aí uns 200 gramas". 
 
Fizeste bem a muita gente. Não era preciso ver o Facebook no dia em que foste embora para perceber isso. Foste um exemplo pela luta que travaste contra um adversário que tinha outro tipo de argumentos. Argumentos esses, que muitas vezes, e com muito sofrimento, conseguiste contornar. Lembro-me de te visitar no IPO, através de uma janela de vidro e de aí falar contigo ao telefone. Saí de lá, desejando nunca mais lá voltar e muito triste por ver um amigo assim. Foi já há algum tempo, é certo, mas nunca mais esqueci esse dia. 
 

Um abraço, "Rei das Tabelas", daqui até ao céu.

Há um ano atrás veio a notícia inesperada. Não queria acreditar, pois tinha estado contigo há relativamente pouco tempo e tal desfecho não me parecia possível. Mas aconteceu. O "Rei das Tabelas" tinha perdido a guerra contra um adversário terrível. Ganhaste muitas batalhas mas perdeste a guerra. Caíste, é certo, mas de pé. Tal e qual como nos tempos em que jogávamos hóquei. Nós até podíamos perder, e perdemos muitas vezes, mas eles tinham de ser muito mais fortes do que nós, porque nós lutávamos muito. Foi assim que tu lutaste, até ao fim.
 
Um ano depois, não mereces ser esquecido. Nunca o vais ser. Fosse no trabalho, no hóquei, ou noutro sítio qualquer, nunca foste apenas mais um. Eras tu. 
 
Um abraço, "Rei das Tabelas", daqui até ao céu.
 
* Jornalista José Lameiras
Modificado em sexta, 15 janeiro 2016 09:05

O Tempo dos nossos Tempos

domingo, 10 janeiro 2016 02:03
A visualização de um pequeno vídeo do surpreendentemente humilde ex-presidente da república do Uruguai, José Mujica sobre os valores da sociedade actual e a forma como vivemos o tempo, fez com que eu próprio explorasse um pouco este assunto. Mas, para que melhor se entenda aquilo a que me refiro, talvez seja melhor reproduzir aqui as suas próprias palavras:
Inventámos uma sociedade de consumo em que a economia tem que crescer ou acontece uma tragédia. Inventamos uma montanha de consumos supérfluos… mas o que se gasta é tempo de vida. Quando compro algo, ou tu, não pagamos com dinheiro, pagamos com o tempo de vida que tivemos de gastar para ter aquele dinheiro. Mas com uma diferença, tudo se compra menos a vida. A vida gasta-se e é lamentável desperdiçar a vida para perder a liberdade.”
 
De facto, esta azáfama em que se vive e estes valores temporais que nos tentam incutir nos dias de hoje, só nos faz mesmo… passar tempo. Não conseguimos sequer aproveitá-lo para as coisas que realmente interessam, para as coisas que nos dão gozo, para as coisas que são efectivamente importantes para nós.
 

Não queiramos que o tempo passe tão depressa, há coisas que nos vão fazer ter saudades, mesmo sabendo que tudo valeu a pena vão fazer-nos ter saudades. Todo o tempo passado já não volta a passar pelo nosso tempo (pelo menos tal como o conhecemos), mas se o vivermos à pressa nem sequer conseguiremos saborear o momento.

O tempo consome-nos, as distracções desta e de outras vidas são mais que muitas.
 
O tempo voa e muita gente não consegue encontrá-lo para simplesmente ser feliz. 
 
O tempo passa, e passa tão velozmente que quando nos apercebemos que queremos chorar, que queremos rir, estar, amar, sorrir, que queremos tão somente olhar ou viver, o tempo já passou por nós e o tempo que passa já não regressa, só tem bilhete de ida. Quando nos apercebemos disso já ele nos ultrapassou a toda a velocidade e levou também consigo a vida que não vivemos. De certa forma, por vezes, chega a deixar-nos um amargo de boca o facto de não conseguirmos recuperá-lo, mas não conseguimos mesmo, já se perdeu, e aquele que se perdeu foi aquele que já passou.
 
O tempo urge e outros gostariam de ter mais tempo… mais tempo para perder, mais tempo para ganhar, gostariam de ter a liberdade de poder gastá-lo, vivê-lo, aproveitá-lo, senti-lo e até mesmo poder matá-lo. Mas será que não se tem mesmo essa liberdade? Eu não acredito, de todo! Cheguei à conclusão que a frase “Não tenho tempo!” pode ser uma autêntica treta! Toda a gente tem, à partida, o mesmo tempo, a sua forma de gestão é que pode diferir… o ritmo com que o mesmo se gasta é que pode ditar a liberdade que se tem para o gerir. Esqueçamo-nos então da ideia de que não se tem tempo e façamos nós o nosso próprio tempo.
 
Se repararmos o tempo está em tudo o que fazemos, está naquilo que sentimos, no que lemos. Quem não reconhece o trava-línguas “O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem”? O tempo está em todo o lado. Aqui por Estremoz, por exemplo, está inscrito aos pés da imagem do deus Saturno, num dos ex libris da cidade, no conhecido Lago do Gadanha, o texto “Corre o tempo velozmente, como a água da corrente. Nós também da mesma sorte, correndo vamos à morte.”
 
O tempo é, na realidade, o momento, desaparece num ápice, é verdade, mas é o momento. Uns dizem que é dinheiro, outros classificam-no de ouro. Nenhuma destas classificações se pode deixar de considerar verdadeira, porém, para mim é muito mais do que isso, para mim o tempo é professor. Ele ensina-nos tanto! Traz-nos tanta coisa!… A mim trouxe-me responsabilidade, trouxe-me a maturidade que quase não tive quando, por exemplo, nasceu a Mariana, trouxe-me a maturidade que começou a desenvolver-se mais rapidamente quando depois apareceu a Matilde e mais tarde o Miguel. Se querem que vos diga, 28 anos de tempo passado não me trouxeram a capacidade de ter a maturidade necessária para perceber, nessa altura, o que era um filho. Agora sim tenho a noção de a ter desenvolvido, foi também o tempo que ma trouxe, mas não ma trouxe sozinha, transportou consigo a experiência para que hoje o possa compreender.
 
Para ser sincero imagino o tempo de cada pessoa incrustado num chip dentro de cada um dos nossos corpos com uma espécie de cronómetro que começa a funcionar num acto de amor e que vai passando, segundo a segundo, minuto a minuto, hora a hora, dia a dia… sem nunca sabermos quando a energia acaba, sem nunca sabermos sequer quando se desliga, quiçá para sempre.
 

Se querem que vos diga, 28 anos de tempo passado não me trouxeram a capacidade de ter a maturidade necessária para perceber, nessa altura, o que era um filho. Agora sim tenho a noção de a ter desenvolvido, foi também o tempo que ma trouxe, mas não ma trouxe sozinha, transportou consigo a experiência para que hoje o possa compreender

É por isso que o tempo enquanto é tempo tem que ser doce, suave… o tempo enquanto é tempo tem que ser vivido calmamente e o nosso foco tem que estar cada vez mais direccionado para a positividade, para o que nos faça bem, para as nossas pequenas conquistas, para a simplicidade de um sorriso, de um gesto, de um abraço.
 
Não queiramos que o tempo passe tão depressa, há coisas que nos vão fazer ter saudades, mesmo sabendo que tudo valeu a pena vão fazer-nos ter saudades. Todo o tempo passado já não volta a passar pelo nosso tempo (pelo menos tal como o conhecemos), mas se o vivermos à pressa nem sequer conseguiremos saborear o momento.
 
O melhor tempo da minha vida é aquele que aproveito para passar com os meus filhos. Eu tento, a sério que tento que ele não passe tão depressa, chego mesmo a pensar que a pressa dele não é a minha pressa, mas o que é certo é que ele corre mais depressa do que eu e quando dou por isso ele já foi, no fumo dos dias, das horas, dos minutos, dos segundos e a única coisa que fica é o rasto da memória. Na verdade nós aprendemos a viver com isto mas reflectindo bem, o que efectivamente mais importa é sabermos viver o tempo que aí vem, ainda que guardemos as memórias do que se esfumou.
 
Professor Luís Parente
 
Modificado em domingo, 10 janeiro 2016 02:19

Encontro com Freud - Crónica VIII

sábado, 02 janeiro 2016 10:57

…”encontrei-me com Freud” para refletir sobre o meu Ano Novo, a experiência de alguém que se considera católica, que acredita num Deus de Amor, e aqui incluo todas as definições do que é o Amor, para cada um de nós, desde que, e isso Freud também explica, seja saudavelmente vivido com os demais, até com Deus.
 

Até hoje não sei se sei rezar, a Fé é um mistério que humildemente penso por vezes ter mas tal como disse nas redes sociais, há sentimentos que não conseguimos transformar em palavras e foi o que vivi ontem/hoje em Fátima.

Como muitos dos meus familiares e amigos sabem, esperei por 2016 em Fátima, altar do mundo, local de culto, meditação, de encontro e de ir ao encontro de algo, alguém ou apenas estar… Levei todos, os que acreditam e os que não, e na troca de olhar entre mim (grão de areia) e a Mãe do Céu, pensei em todos… Que me perdoem os que não acreditam, mas o meu Deus e a Mãe do Céu não se importam com isso e compreendem e aceitam e sabem… porque o meu Deus sabe melhor que eu, o que sinto, o que penso, o que quero, o que preciso e não, muito antes de mim.
 
Há sofrimento, há tristeza e sempre haverá, porque a vida é uma complexidade de estares e de vivências, e o meu Deus percebe as coisas, todas as coisas, mas como um bom amigo insiste em estar comigo em todos os momentos, mesmo naqueles em que não o quero por perto, não gosto Dele e não aceito essas tais coisas que Ele percebe e eu já não…
 
Até hoje não sei se sei rezar, a Fé é um mistério que humildemente penso por vezes ter mas tal como disse nas redes sociais, há sentimentos que não conseguimos transformar em palavras e foi o que vivi em Fátima.
 
Deixo-vos uma frase que li em 2009, “Amo-te, assim como tu és”.
 
Feliz Ano Novo para todos, todos os Anos.
 
Helena Chouriço - Psicóloga
 
 

Desejos de Natal

quinta, 24 dezembro 2015 11:23
Dezembro traz com ele o fim de mais um ciclo e o começo de outro. O Solstício de Inverno, que acontece todos os anos por volta do dia 22 no hemisfério norte, assinala o início da fria estação que lhe dá o nome e brinda-nos com o dia mais curto e a noite mais longa do ano. Tudo porque o sol, nesse dia, atinge a sua maior distância angular em relação ao plano que o separa da linha do equador. Mais uma vez a paisagem se altera para receber este novo ciclo e preparar o próximo. A vegetação entra num período de letargia, ou repouso vegetativo, ganhando forças para se voltar a renovar no equinócio da Primavera.
 
Com o início do Inverno chegam também o Natal e o Ano Novo, pontos altos do calendário da Humanidade, cristã ou pagã. Muito graças ao Cristianismo, com o Natal celebramos o nascimento de Jesus. Um nascimento que, segundo o Antigo Testamento, ocorreu numa humilde cabana em Belém e foi assinalado com a passagem de uma estrela que indicou o caminho a pastores e reis magos que foram adorar o Menino e entregar-lhe presentes. Começa, talvez assim, a tradição de nesta data festiva se oferecerem presentes às pessoas de quem mais gostamos.
 

Fico maravilhado com o brilho das iluminações e a beleza das decorações natalícias, mas aflige-me pensar nos milhares de euros que custam e como esse dinheiro podia ter sido aproveitado para dar de comer a quem tem fome ou abrigo a quem não tem casa.

Ainda me lembro de, em criança, na manhã do dia 25 de dezembro, correr disparado para a chaminé, onde na véspera tinha colocado os sapatinhos e um milhão de desejos, à procura dos presentes que o Menino Jesus lá tinha deixado, juntamente com uma poça de água que alguém improvisara, para atestar a sua passagem pela nossa casa. Sim, Jesus também tinha as suas necessidades, como qualquer menino e uma longa e árdua tarefa para uma só noite, não podendo perder um só segundo com ninharias, como uma casa de banho.
 
Hoje em dia, a maior parte das crianças já se esqueceu do Menino Jesus. Por influência da globalização, estas escrevem cartas ao Pai Natal, uma figura tipicamente nórdica e sem qualquer ligação à nossa cultura mediterrânica, mas que se apoderou do imaginário de todos, ao ponto de substituir toda a ideia da natividade. Claro que é hoje mais fácil conceber e fazer passar a ideia de um homenzinho forte, de barbas brancas, com vestes vermelhas, que vive na Lapónia com um batalhão de duendes e que se desloca no seu trenó, carregado de presentes e puxado por renas. É muito mais fácil que as crianças se apaixonem por esta figura e que, em momento algum, questionem o enorme feito que deve ser escorregar pelas chaminés de todo o mundo para lhes deixar todos os presentes que pediram nas suas cartas.
 
Não sabem estas crianças que, afinal, o trenó do Pai Natal vem carregado de horas e horas passadas pelos seus pais a percorrerem mil e uma lojas, vários centros comerciais e hipermercados para conseguir aquela boneca, aquele carrinho, a playstation ou as roupas da moda, que foram vistas pelos meninos na televisão, no intervalo dos desenhos animados, e que se materializaram em desejos escritos na carta que escreveram ao senhor das barbas brancas. O consumismo atinge o seu auge, mas vale tudo para ver um sorriso na cara das crianças. Confesso que também eu contribuo para encher o trenó do Pai Natal da mesma forma, em especial desde que nasceu a minha filha, porque nada é melhor que a alegria do seu sorriso.
 
Pessoalmente não gosto muito do Natal, mas não posso deixar de concordar que é uma época do ano carregada de magia. Por todo o lado a paisagem urbana altera-se e as ruas enchem-se de luz, de cores, de sons e de cheiros característicos. Os nossos cinco sentidos despertam para a necessidade de consumir até à exaustão, até não restar nem mais um cêntimo no fundo da algibeira. Mas pelo menos teremos o melhor de todos os natais. Uma mesa recheada de sabores, onde não faltarão o bacalhau, as filhoses, o bolo rei e uma série de outras iguarias. Uma árvore de Natal com tudo aquilo a que tem direito, desde as fitas, às luzes, às bolas e a um sem fim de outras decorações que todos os anos são diferentes. E, claro, presentes e mais presentes, para todas as idades, gostos e feitios.
 

Ao mesmo tempo, pelas ruas, pelas lojas, pelas casas, pelos emails e através dos telemóveis, multiplicam-se mensagens de boas festas. Muitas delas, acabadinhas de copiar de um site qualquer e iguais a milhares de outras. Mas, como em muitas outras coisas, o que conta é a intenção (ou a obrigação) e, por isso, partilham-se desejos de paz no mundo, de muito amor, amizade, felicidade, saúde, dinheiro... como se nos restantes dias do ano não precisássemos todos de paz, amor, amizade, felicidade, saúde, dinheiro e outras coisas positivas.
 
O Natal deve ser, realmente, tempo de partilha. Uma época do ano em que esquecemos, por momentos, aquilo que nos separa dos outros e em que nos lembramos mais facilmente daquilo que nos une. Mas deve (ou deveria) também ser tempo de reflexão. Refletir acerca daquilo que nos separa dos outros. 
 
E o que nos separa é, na realidade, um fosso enorme. É muito mais fácil deixarmo-nos levar pela magia do Natal do que refletir por que razão há milhões de pessoas que vivem na solidão, com fome, sem abrigo, sem carinho, dizimados pela guerra, doentes, longe da família, sem amor, sem amigos. Pessoas iguais a nós a quem a magia não chega.
 
Felizmente, para grande parte de nós, esta realidade não nos atinge. No entanto, devíamos fazer um esforço para, nesta época, também nos lembrarmos que esta realidade está, por vezes, mais próxima do que julgamos. Muitas vezes escondida pelos milhões de luzes que iluminam o Natal e que tão facilmente a ofuscam.
 
O Natal traz-me sempre este misto de sentimentos antagónicos. Irrita-me o deambular à procura de presentes, na maioria coisas inúteis e que temos todos os dias, mas fascina-me o frenesim, o movimento das pessoas e a alegria das crianças que têm algo para receber. Fico maravilhado com o brilho das iluminações e a beleza das decorações natalícias, mas aflige-me pensar nos milhares de euros que custam e como esse dinheiro podia ter sido aproveitado para dar de comer a quem tem fome ou abrigo a quem não tem casa.
 
Por isso, na Passagem de Ano, quando à meia noite estiver a comer as doze passas, os meus desejos para 2016 não serão apenas centrados naquilo que quero para mim, mas também naquilo que gostaria que os outros tivessem: saúde, amor, paz, felicidade, amizade, dinheiro e tudo de bom a que temos direito. Em especial, vou pensar naqueles para quem o Natal é apenas mais um dia, igual a tantos outros, com os mesmos receios e as mesmas dificuldades. Para eles, afinal, o Natal mais não é do que uma época do ano em que os dias são mais curtos e as noites são tremendamente mais longas e frias. Para eles, nada mais há a celebrar, senão o Solstício de Inverno.
 
A todos um melhor Natal e façam o favor de ser felizes em cada um dos 366 dias de 2016.
 
* arquiteto paisagista António Serrano
 
 
Modificado em quinta, 24 dezembro 2015 11:31

O que me faz lembrar o Natal...

terça, 15 dezembro 2015 18:31
Gosto do Natal. Gosto de recordar outros tempos do Natal, tempos que já não voltam. Gosto de me lembrar das noites passadas em Vila Boim. Tenho saudades de chegar à casa da minha avó e sentir aquele cheiro único. Lembro-me da lareira acesa, pronta para nos aquecer e para depois fazer o cacau que acompanhava com os "anéis" que a minha avó fazia. Nunca mais comi. 
 
Tenho saudades desses tempos. Tenho saudades de depois mudar, sempre em Vila Boim, para a casa de outra avó, com uma família bem mais numerosa, com muitos primos. Lembro-me dos cantares ao menino e dos homens que percorriam a vila a fazê-lo. 
 
Para mim, nesse tempo, o Natal era outra coisa. Era o esperar pela altura das prendas e comer doces como se não houvesse amanhã. Para nós, crianças, era quase tudo permitido. Era ter a sorte de chegar a Vila Boim ver os meus avós a terminarem de preparar tudo para comermos a sopa de cação, da qual eu nem gostava e que hoje adoro. Era espreitar para dentro de um alguidar e ver os tais "anéis" cheios de açucar à volta. Era receber o verdadeiro envelope, em que a minha avó colocava o dobro do que colocava para os outros, pois nasci perto do Natal. Como já sabia quanto ia trazer, esse dinheiro já tinha um brinquedo à espera assim que as lojas voltassem a abrir.
 

É preciso viver o Natal e não, apenas, passá-lo. São coisas diferentes. Viver o Natal é aproveitar. É aproveitar o facto de estarmos juntos este ano sem sabermos se no próximo estaremos. É aproveitar cada momento e viver esta quadra como se fosse a última vez. É estar pronto para fazer Natal, para voltar à infância.

O Natal é a prova de que por vezes não damos valor aos bons momentos que vivemos. Os momentos mais simples são os melhores. Hoje, quem me dera viver só cinco minutos daquele tempo. Quem me dera voltar a receber um envelope daqueles, geralmente aproveitados depois de se pagar a luz ou a água, com um "Z" e um "R". Quem me dera aquecer-me só mais uma vez naquele lume do qual não podíamos mesmo estar perto, pois queimava as pernas. Para mim, é verdade, é dos meus avós que me lembro nesta data. Lembro-me sempre da canção que António Sala escreveu e que o José Gonçalez e o António Pinto Basto cantaram: "O Natal é lembrar os avós e as noites da aldeia". Nada mais certo.
 
É preciso viver o Natal e não, apenas, passá-lo. São coisas diferentes. Viver o Natal é aproveitar. É aproveitar o facto de estarmos juntos este ano sem sabermos se no próximo estaremos. É aproveitar cada momento e viver esta quadra como se fosse a última vez. É estar pronto para fazer Natal, para voltar à infância. É olharmos para as crianças a abrirem os presentes e voltarmos atrás no tempo para perceber o que estão a sentir. Eles não sabem, mas estão agora a viver o melhor tempo das suas vidas. É comer de todos os doces que estiverem em cima da mesa, porque depois durante o ano vamos dizer :"agora é que me apetecia aquele doce que não comi no Natal". Aproveitar, é ouvir pela vigésima vez aquela história do mais velho que está na mesa e que ele conta sempre no Natal, porque é quando tem mais ouvintes. Temos de ouvir, como se fosse a primeira vez. Aproveitar o Natal, é fazer com que as crianças recebam uma prenda do Pai Natal, mesmo que elas desconfiem que estão a ser enganadas. 
 
Sei que falo de um Natal bom. Falo de um Natal onde há possibilidade, pelo menos, de colocar comida na mesa e de dar um brinquedo às crianças. Sei, que em muitas casas tal não é possível. É triste, muito triste mesmo. Por vezes, queixamo-nos sem dar valor ao que temos. O Natal também nos pode dar essa lição de vida. Podemos, e devemos, aprender a dar valor ao que temos. Devemos dar valor a quem temos connosco e ao que estamos a viver. O Natal também é isso. 
 
Meus amigos, façam Natal. Boas Festas para todos!
 
* jornalista José Lameiras
Modificado em terça, 15 dezembro 2015 18:34

Um simples “ATÉ AMANHÃ!”

quinta, 10 dezembro 2015 12:32
A época que se aproxima é uma época que apela ainda mais a sentimentos… sentimentos de partilha, de alegria, de amizade, fraternidade, compaixão, perdão, apela a sentimentos de esperança, união, amor, solidariedade mas também apela muito à Saudade.
 
Saudade é a tal palavra tipicamente portuguesa que gera e carrega em si toneladas de sentimentos e que dizem ser impossível de traduzir noutras línguas.
 

Para mim a Saudade vive num pequeno compartimento que está discretamente escondido algures entre uma válvula ou um ventrículo, uma artéria ou uma veia no coração de cada um. Essa Saudade está inevitavelmente ligada à memória e, de certa maneira, há memórias que quando avivadas deixam de caber no tal compartimento. A este propósito, e acerca deste compartimento, concordo em absoluto com a lucidez de quem escreveu qualquer coisa como “A Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorre pelos olhos”. Nada é mais verdadeiro e simples de entender do que esta expressão… logo eu que sou um autêntico piegas. O que é certo é que é de facto isso que pode acontecer quando, por exemplo, visionamos fotografias ou vídeos antigos, quando falamos e recordamos momentos passados, quando reencontramos pensamentos outrora pensados, pode acontecer quando temos saudades de coisas, de sons, de sabores, de cheiros, de toques, quando temos saudades dos tempos, quando temos saudades do tempo, quando temos saudades de alguém.

 

Às vezes imagino que há algo que leva os meus beijos à tua estrela, só tenho pena é que, no regresso, não traga de volta o teu cheiro nem o teu sorriso. Acredito veementemente que não foste tu que perdeste uma vida, acredito mesmo é que ela é que não imagina o que perdeu… perdeu um ser humano de excepção, isso sim!

Embora não descarte a ideia de que a Saudade também pode dizer respeito ao futuro, e apesar de viver com paixão o presente e tendo, naturalmente, uma visão desse mesmo futuro, devo confessar que sou um completo saudosista. Tenho saudades de tantas coisas, de tanta gente…
 
Hoje, 10 de Dezembro, é aquele dia em que, para mim, a Saudade mais aperta. Faz hoje precisamente oito anos que um limite nos separa, digamos que é um traço, um simples traço horizontal que parece estar aqui tão perto mas ao mesmo tempo tão longínquo… esse traço que divide a Terra do Céu e que faz com que a Saudade aumente a cada dia que passa e não caiba no meu compartimento.
 
 Às vezes imagino que há algo que leva os meus beijos à tua estrela, só tenho pena é que, no regresso, não traga de volta o teu cheiro nem o teu sorriso. 
 
Acredito veementemente que não foste tu que perdeste uma vida, acredito mesmo é que ela é que não imagina o que perdeu… perdeu um ser humano de excepção, isso sim!
 
Tenho Saudades tuas pai! Tenho Saudades de ser o teu guarda-redes (ainda hoje quando jogo à bola com o teu neto, és tu também que ali estás). Tenho Saudades das tuas criações culinárias, do teu assobio trinado, da tua boa disposição. Tenho Saudades da tua amizade pelas pessoas, aliás, essa amizade ficou bem patente no dia em que seguiste outro rumo e transpuseste o tal traço horizontal, nessa manhã fria em que o sol brilhou para te iluminar o caminho e em que até o teu orfeão cantou, só para ti, a Avé Maria de Jacob Arcadelt de que tanto gostavas… foram centenas as tais pessoas que nesse dia te demonstraram a amizade e que te acompanharam para se despedirem de ti. Logo tu que eras a mais simples das pessoas, humilde, respeitadora e justa, amigo de todos e, ao contrário do que se possa imaginar, sem qualquer relevância social. Sim porque não foste político, não foste escritor, nem sequer futebolista… no fundo não foste nada daquilo que hoje se preconiza como de grande importância social. Sabes o que te digo, pai? Ainda bem que não foste! Ainda bem que foste simplesmente tu, o “Manecas” pai, filho, marido, vizinho, irmão, colega, cunhado… o “Manecas” gerador de consensos, parceiro, divertido, simpático, brincalhão, amigo. Ainda bem que foste somente pessoa, pai.
 
Às vezes tenho vontade de, como diz o meu amigo José Gonçalez, “…te poder dar a mão” e “…Dar um murro na saudade”. Mas não consigo… é verdade, não consigo mesmo… na realidade o que me resta é ter que ir dando vida à Saudade.
 
Tenho Saudade do prazer físico de te tocar, pai… de te ver, de te abraçar, de te cheirar, de te beijar. Tenho Saudades de sermos todos, e nós sabemos que todos não fomos. Tenho até saudades de um simples “Até amanhã!” 
 
E o que pode mudar com um simples "Até amanhã!"?
 
O branco pode ficar negro...
 
O cheio, vazio...
 
A certeza pode dar em incerteza...
 
A verdade em mentira...
 
A realidade em utopia...
 
A liberdade em cárcere...
 
A luminosidade em escuridão...
 
Com um simples "Até amanhã!"... o prazer pode dar em dor...
 
A facilidade em dificuldade...
 
A vitória pode virar derrota...
 
A perseverança pode dar em renúncia...
 
A paciência em impaciência...
 
O perfeito em imperfeito...
 
A paz em guerra...
 
Com um simples "Até amanhã!" a alegria pode tornar-se tristeza...
 
A vida pode fugir para a morte...
 
Há oito anos atrás, neste dia 10 de Dezembro, acordei sem saber porquê às 5h30m da manhã... estranho... nunca acordo de noite... voltei a adormecer. Pela manhã toca o telefone e tu já tinhas ido... precisamente às 5h30m...
 
Aquele acordar talvez tenha sido um sopro teu... talvez tenha sido um até já... talvez tenha sido a tua despedida.
 
Uma coisa é certa pai, a vida que viveste, viveste-la por ti, para ti e para os outros, aliás, os teus ensinamentos dizem-me que não faz sentido viver a nossa vida sem a dar a beijar aos outros.
 
Quando há oito anos seguiste outro caminho, pensei que te tinha perdido... mas não!!! Tu não morreste, estás bem vivo em mim!!! Continuas a ser um exemplo, uma fonte de inspiração. Os valores que cá me deixaste fazem com que continues a estar aqui e a fazer parte da nossa vida.
 
Não! Não te perdi... eu encontro-te aqui no meu pequeno compartimento ... todos os dias... SEMPRE!!!!!
 
Na noite anterior à tua viagem disseste-me "Até amanhã!" 
 
O que pode mudar com um simples "Até amanhã!"?
 
PODE MUDAR TUDO!!!!...
 
MAS TAMBÉM PODE NÃO MUDAR ABSOLUTAMENTE NADA!!!!
 
ATÉ AMANHÃ, PAI!!!!!
 
AMO-TE
 
* Professor Luís Parente
 

Modificado em quinta, 10 dezembro 2015 14:19

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