domingo, 10 dezembro 2023
sábado, 01 agosto 2020 12:56

Nunca te escrevi uma Carta de Amor

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Hoje é o teu dia de Aniversário e resolvi dar-te uma prenda diferente. Nunca pus por escrito o quão importante és na minha vida. Já to disse milhares de vezes mas nunca o passei para o papel. Amo-te desde a primeira vez que te vi. Se dizem que não há amores à primeira vista, estão realmente enganados e tu és a prova disso mesmo. Teríamos 12, 13, 14 anos quando, ao ver-te passar na Travessa da Rua de São Pedro, o meu coração bateu a mil. Naquela altura tu eras somente um sonho impossível de alcançar. A miúda mais linda da cidade interessar-se por mim era verdadeiramente uma utopia. Todas as vezes que ia para a explicação de Matemática da Mariazinha, eu olhava para aquela pequena porta da casa onde vivias, que mais tarde soube que chamavas “Casa das Formigas”, sempre na esperança de a mesma se abrir e de trocar um simples olhar contigo. Tinha a noção que, algo mais do que isso seria sair-me o totoloto (na altura não havia euromilhões). Só de te imaginar a abrir aquela porta justo no momento em que eu passava fazia-me um frio na barriga e uma tremedeira de pernas que nem queiras saber. Aqueles teus cabelos longos, soltos e sempre bem penteados… aquele odor que emanavas ao passares por mim nos corredores da escola, tudo era para mim um sonho. “Baixinha” era assim que te chamavam os teus amigos… As minhas esperanças em relação a ti eram quase nulas, tu nem olhavas para mim quanto mais dirigires-te a mim para falarmos.

 

Conhecemo-nos aí com 17 anos, nas grades do Rossio que dividiam a praça de táxis do resto do estacionamento ainda de terra batida… mesmo em frente ao “Convívio” e ao “Águias D’Ouro” onde meia cidade se sentava a passar o tempo, a esparvoar… era o ponto de encontro de muita gente nas saídas à noite. Quem nos apresentou foi o Susi numa noite de Verão… a partir daí a minha esperança renasceu e cresceu exponencialmente, pelo menos nos meus sonhos. Passámos a trocar “olás” nos corredores da escola, encontrámo-nos algumas vezes, por mero acaso (ou não…) nas instalações da Rádio Despertar onde ambos fazíamos programas e, pelo menos, já havia alguma conversa entre nós. Entretanto fui trabalhar para o “Kimbo” e tu passaste a aparecer por lá a beber café com a Elsa e o resto do pessoal. De facto o ambiente daquele “Kimbo” era fantástico, não sei até se o João terá tido alguma vez uma equipa como aquela com o Takana à cabeça, o João, o Tó-Zé, a D. Luzita, a D. Laura, a Ana e eu. De certa maneira, também vocês passaram a fazer parte daquela mobília. Durante aquele período tirei a carta e comprei ao Sr. Emiliano, que era o meu patrão, o meu primeiro carro… um lindo Honda 600 branco... consigo até hoje saber a sua matrícula… BN-73-62. Curiosamente o teu pai era também cliente do Kimbo e cada vez que me pedia um café e um cheirinho perguntava-me se não lhe vendia o “boguinhas”, dizia ele que “Era mesmo bom para a minha Zézinha!”… eu pedia-lhe sempre mais do que me havia custado… mal sabia ele que de vez em quando te dava umas boleias. Foi o único carro que consegui vender mais caro do que o que me custou… mas tenho pena de o ter vendido e tu sabes que é verdade.
 
Grosso modo, a partir dessa altura começámos a falar mais e a partilhar gostos. De certa forma aí também nos começámos a aperceber que entre nós havia algo mais em comum, o gosto um pelo outro… se bem que o meu já existia, tinha era estado até aí adormecido numa qualquer esperança. Por entre peripécias de escritos nos vidros do carro e saudáveis e divertidas perseguições de carro pela cidade, sempre respeitando as regras de segurança e as leis do trânsito, chegámos ao dia 10 de Novembro de 1994, o dia em que a nossa história de amor em conjunto começou a sério… ainda hoje me lembro daquele beijo que trocámos no carro estacionado ao cimo da Rua dos Telheiros e que terá selado aí o início da nossa linda história. Tu costumas dizer na brincadeira que se não fosses tu eu ainda andava às voltas ao Rossio… provavelmente sim, mas certamente seria à tua procura meu amor. A partir daí as histórias dentro da nossa história foram e têm sido imensamente felizes, mesmo as mais complexas que exigiram de nós mais empenho e energia.
 
Sempre te disse que tinhas sido feita para mim, que os nossos pescoços encaixavam na perfeição do nosso abraço. Ainda hoje me surpreendo quando, em determinado instante, estamos a pensar o mesmo e o dizemos quase em simultâneo. Quem não nos conhece pode dizer que “Já se conhecem há tanto tempo que é natural!”, mas não! Sempre assim foi, sempre completámos as frases um do outro… sempre pensámos em quase tudo da mesma maneira… sempre tivemos os mesmos sonhos, as mesmas ambições, os mesmos objectivos de vida.
 
De 1994 a 1999 os nossos alicerces foram sendo construídos e nem a separação física de um Curso Superior nos afastou dos nossos objectivos de vida em comum e, quase no final do século XX, unimos o nosso amor num matrimónio muitíssimo molhado. Até parecia que tinha sido combinado com Deus, sairmos da Igreja e começar a chover desalmadamente durante todo o resto desse dia 18 de Setembro. Dizem que quando o casamento é molhado é também abençoado e o nosso tem-no sido, felizmente, até aos dias de hoje e espero que continue a sê-lo.
 
Desde essa altura tem sido só crescer, e da parte que me toca até para a frente e para os lados isso aconteceu, se bem que essa não é a parte mais importante desse crescimento. Crescer a saber viver em união é muito mais importante… viver com cumplicidade, com partilha, com fé, com justiça, com responsabilidade, honestidade, humildade, com respeito, solidariedade, paz e essencialmente com amor. Aliás, tenho para mim que o amor transporta consigo todos os predicados e que é só deixá-lo fluir e tudo o resto vem atrás. Bem sei que há quem não consiga encontrar o amor mas no fundo isso não é bem verdade, quanto a mim o amor está em tudo… numa simples flor que apanhamos… num gesto que temos… num olhar que partilhamos… num bolo que fazemos, enfim, é o amor que comanda o mundo (já ouvi isto em algum lugar)… à parte de tudo isto eu acrescentaria que a falta dele, nos nossos dias, também o comanda.
 

... quase no final do século XX, unimos o nosso amor num matrimónio muitíssimo molhado. Até parecia que tinha sido combinado com Deus, sairmos da Igreja e começar a chover desalmadamente durante todo o resto desse dia 18 de Setembro. Dizem que quando o casamento é molhado é também abençoado e o nosso tem-no sido, felizmente, até aos dias de hoje e espero que continue a sê-lo.

Fruto, precisamente, do nosso amor chegámos ao dia 11 de Setembro de 2002, um dos dias mais felizes das nossas vidas. Quem nos haveria de dizer que na primeira noite que ia passar em Sabóia me irias ligar às 11 da noite a dizer que estavas com contrações e que se elas se intensificassem eu teria que regressar a Estremoz. Pois… às duas da manhã, já do dia 11, entrei no carro a caminho de casa e às quatro e meia estávamos em Évora. Nesse dia nasceu o nosso primeiro grande amor, a Mariana. Daí para cá tudo mudou, e para muito melhor. Vivemos a inexperiência dos primeiros dias até encontrarmos a aprendizagem do real ao adaptarmo-nos a esses novos ritmos, aos novos sons, aos novos cheiros, aos novos sabores, aos novos sorrisos, às novas palavras. Depois veio o 15 de Agosto de 2007, outro dos dias mais felizes das nossas vidas. Nunca me esquecerei que na véspera às 9 da noite andavas, com um barrigão enorme, completamente descontraída em cima de um escadote na garagem e eu e a Isaura a ralharmos contigo e passadas tão somente 3 horinhas já a nossa princesa Matilde cá estava.
 
Sempre te achei uma guerreira, uma Mulher com “M” maíúsculo que não vira a cara à luta nem a qualquer desafio, que tem uma força descomunal na defesa dos seus e dos seus princípios. Tenho aprendido tanto contigo meu amor, tanto mesmo! Posso até dizer que sou um felizardo por te ter na minha vida.
 
Cinco anos depois, no dia 24 de Setembro, quando nada o fazia prever, recebi uma mensagem tua a dizer: “Estou grávida! E agora?”… acho que os meus olhos brilharam de felicidade e eu respondi-te: “Agora, quem cria dois cria três!”. Perante a tua insegurança e surpresa por se revelar falso o pensamento de estares precocemente a entrar na menopausa, choraste bastante mas, como em tudo, assumiste o destino e preparaste-te com todo o amor para o dia 18 de Maio de 2013, altura em que o nosso príncipe e reguila Miguel veio ao mundo qual Super Homem a voar pelos céus de Smallville ou Metrópolis. O facto de ter assistido ao nascimento dos nossos três filhos fez-me, ainda mais, perceber que os nossos corações estão divididos ao meio e que metade do meu está no teu e metade do teu está no meu. A sensação de ver nascer um filho é absolutamente indescritível e, para mim, foram três momentos incríveis que, ainda que fique mais desmemoriado do que já sou, nunca esquecerei. Quando menos esperávamos as fraldas regressaram, os biberões também e, pela primeira vez, passámos dois anos e meio sem dormir uma noite inteira porque o reguila não nos deixou. Ainda assim, mesmo com todas as experiências que vivemos andámos sempre de mão dada, juntinhos, a tentar fazer o nosso melhor para nada faltar aos nossos “M’s”.
 
Sabes tão bem quanto eu que nenhuma relação é perfeita… a nossa, apesar de andar lá perto, também não o é. Uma coisa é certa, temos sempre sabido, em conjunto, resolver os problemas que se nos deparam. Ambos partilhamos a ideia de que o mal dos casais dos dias de hoje é não conseguirem conversar, acabando as relações por se extremarem sem que façam a coisa mais simples do mundo que é ouvir o outro e tentar colocar-se no seu lugar. Felizmente sempre soubemos fazê-lo e sempre cumprimos o conselho do Padre Júlio no dia do nosso casamento: “Nunca vão dormir zangados um com o outro nem sem darem um beijinho um ao outro!”. Gostando de beijos como eu gosto não é nada difícil cumprir o conselho e os nossos feitios também não são para grandes zangas.
 
Na verdade podemos dizer que somos felizes juntos há “práí” 26 anos ou mais… temos crescido juntos, aprendido juntos, continuamos a gostar do mesmo género de música, do mesmo género de filmes, continuamos a gostar mais do Verão do que do Inverno e de termos o quintal cheio de amigos nas noites quentes, continuamos a gostar muito de praia, tu do sol, eu da água.
 
Devo dizer-te que a coisa que mais me surpreendeu em ti ao longo destes anos, e continua a surpreender, é o facto de seres uma mãe incrível, de uma sensibilidade brutal para com os nossos filhos, sendo rígida e firme quando tens que ser e permissiva (muito mais do que eu…) quando também tens que ser. Consegues saber, de forma inata, como agir na altura certa, o que para ser franco me faz pensar: “Como é que consegues?”. Ainda hoje me surpreendes pela forma como és e como ages.
 
Apesar de eu ser gordo e tu seres magra, adoro ver-nos juntos, adoro os momentos só nossos e os que, obviamente não são só nossos… adoro o teu sorriso, o teu carinho, os nossos segredos… adoro a tua pele, o teu cheiro, o teu toque… e fundamentalmente adoro a forma como desenhámos o nosso amor e o transformámos em três seres absolutamente lindos e, para além disso termos tido a capacidade de assumir esse desafio extraordinário que é a humildade de vivermos primeiro a dois, depois a três, a seguir a quatro e ainda a cinco. Não somos iguais, ninguém o é. Tu és tu, eu sou eu mas juntos, os cinco, somos um só ainda que cada um com a sua personalidade, especificidade e forma de agir e pensar. Sei que, por exemplo, tu nunca publicarias nenhum texto sobre nós, mas eu… eu acho que nem que seja somente uma parte, a nossa história de amor deve ser contada… quem sabe não sirva de exemplo para outros amores, até porque NUNCA TE ESCREVI UMA CARTA DE AMOR e, agora que o faço (se é que isto pode ser considerado uma carta de amor) acho que deve ser lida por toda a gente de forma a demonstrar a saudável estupidez, “bacôca” e apaixonada de quem a escreve. Se calhar todas as cartas de amor são assim, “bacôcas”, lamechas, pirosas e cheias de coraçõezitos e cupidos e outras coisas mais. Já que nunca fui muito romântico, ainda que tu esperasses que eu fosse um bocadinho, deixa-me agora sê-lo e dizer todas as baboseiras (no sentido positivo do termo) que se dizem quando se é romântico (acho eu…). Até as nossas filhas acham que eu não sou nada romântico quando perguntam como te pedi em casamento e lhes digo que não pedi… decidimos casar. O que é que se há-de fazer? Eu sou assim!
 
   
 
Eu acho que o nosso amor é perfeito, até nas imperfeições isso se nota. Desde que começámos a crescer juntos, a remar no mesmo barco para o mesmo lado, eu com um remo e tu com o outro, temos percebido que o nosso amor segue o rumo dos imortais, qual Cleópatra e Marco António, qual Romeu e Julieta ou Baltasar Sete-Sóis e Blimunda, ainda que, espero, sem o dramatismo associado a cada uma dessas personagens literárias e da história mundial. O nosso final, que espero longínquo, tem que ser feliz como nós somos, o nosso amor merece que assim seja. Este nosso amor é um poema, é uma prosa, diria que é um soneto, é uma estrela, uma flor, um campo de papoilas saltitantes, outro de girassóis, é um gato, é o mar, a chuva, é tudo e é mais alguma coisa… o nosso amor és tu, sou eu, somos nós. O teu amor é a minha luz, aquela que me faz andar para a frente e olhar o mundo com os teus olhos, pisando os teus passos. Por isso, o que te prometo é o mesmo que sempre te prometi, amar-te para lá do fim dos nossos dias, e mesmo quando um de nós rumar a essa outra dimensão, teremos sempre a nossa outra metade do coração. Sobre este assunto sabes que quero ser eu o primeiro, quero sempre ser eu o primeiro. Não! Não é egoísmo! É o entender que tu és muito mais importante no nosso núcleo familiar do que eu e… uma mãe é sempre uma mãe e as mães não deviam morrer nunca. Mas não falemos disso agora até porque, por tudo o que temos vivido, merecemos ser todos até nós sermos velhinhos e andarmos de bengala. Falemos da felicidade que é termos a nossa família tal como é e da forma imperfeita com que temos criado os nossos filhos, acho que é mesmo isso que os faz perfeitos, pelo menos aos nossos olhos. Já me perguntei muitas vezes quais serão as recordações que eles terão de nós quando formos embora? O que lhes ficará marcado na memória e no coração a nosso respeito? Certeza temos que tudo temos feito para lhes deixar bons valores para que os seus vôos pela vida se façam sem grandes vendavais ou pelo menos, que possam ter a capacidade de ultrapassar as dificuldades desses vôos, com tudo o que têm aprendido ao longo das suas vidas, para que se esses mesmos vôos se tornem calmos mas firmes. Continuaremos a fazê-lo da forma que achamos correcta e, enquanto o fizermos, podemos dizer que temos a nossa consciência tranquila. Ninguém tirou nenhum curso de como criar os filhos, acho que tudo tem a ver com equilíbrio e com a bagagem trazida, que é como quem diz, tudo o que nos foi transmitido pelos nossos próprios pais, avós, outros familiares e através das nossas vivências que mais não fizeram do que dar-nos também a capacidade para dividir o nosso amor.
 
Não sei se isto é uma carta de amor. Se calhar as cartas de amor são mais curtas mas como nunca te tinha escrito nenhuma, o tamanho desta é proporcional às que te devia ter escrito ao longo destes 26 anos se fosse uma pessoa romântica.
 
Já te disse que te amo? Já te disse que te amo cada vez mais? Talvez já to tenha dito mais do que um milhão de vezes, aí não tenho falhado, ainda assim há algo que não te disse tantas vezes e deveria ter dito… OBRIGADO MEU AMOR por cada momento contigo, por cada hora, por cada minuto, por cada segundo… OBRIGADO MEU AMOR por seres quem és… OBRIGADO MEU AMOR por partilhares a tua vida comigo… OBRIGADO MEU AMOR… por tudo… OBRIGADO MEU AMOR por guardares a minha metade do coração contigo… simplesmente OBRIGADO!!!
 
Como diz o nosso Miguel, “Amo-te… até ao pote de ouro do Arco-Íris e até ao teu mundo!”
 
AMO-TE e AMAR-TE-EI SEMPRE!!
 
* Professor Luís Parente
 
 
 
 
 
 
Modificado em sábado, 01 agosto 2020 13:31

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